quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Ranking de Escolas 2012: uma reflexão

Existem alguns factos que os números dos rankings de escolas relativos a 2012, recentemente publicados, evidenciam e que vale a pena sublinhar. Neste post focalizo a minha atenção sobre as comparações que muitas vezes se fazem entre os resultados das escolas públicas e o das privadas. Faço-o exclusivamente com base no pragmatismo dos números constantes nas bases de dados, neste caso a ENES relativa ao Ensino Secundário. Não considero pois outros factores, tais como os relacionados com os contextos em que as diversas escolas estão inseridas ou os das populações que servem.

Fica claro dos rankings de 2012 que, em média, o desempenho dos alunos do ensino privado nos exames nacionais foi superior aos do ensino público (veja AQUI). Na verdade, apenas nos exames de Espanhol (547), Latim A (732) e Português Língua não materna (739 e 839) o desempenho dos alunos das escolas públicas foi superior. Mas, não descurando a importância destas disciplinas, o número de exames que elas representaram foi residual, não chegando a 1,6% do número total de provas realizadas (202052).
A tabela seguintes ilustra essa diferença de desempenho nas disciplinas com mais provas.
Ou seja, em média, um aluno de uma escola privada teve um desempenho em exame superior em 13 pontos (1,3 valores) a um colega de uma escola pública. No caso da Físico-Química A, um dos exames com pior média nacional, tal diferença atingiu 1,8 valores.
Esta evidência é algo que não nos surpreende em face do que vamos ouvido e interiorizando todos os anos por esta altura em que se publicam os rankings.

Talvez o que nos possa surpreender são os números da tabela seguinte em que se faz a mesma comparação, agora para as classificações internas (CIF), isto é, as classificações que os Conselhos de Turma atribuem aos alunos e com as quais eles vão a exame.
Verificamos aqui que, em média, as diferenças de desempenho entre alunos de escolas privadas e públicas são sensivelmente as mesmas encontradas em exame (são até ligeiramente inferiores). Um aluno de uma escola privada vai a exame com cerca de 1,2 valores a mais do que um de uma escola pública. Esta evidência parece colocar em causa aquele argumento de que se "paga para ter melhores notas". Afinal essa diferença é de "apenas" 1,2 valores e, caso representasse efectivamente inflação de classificações, deveria diminuir drasticamente em exame. Tal não acontece. A diferença mantém-se sensivelmente a mesma e aumenta até no caso das disciplinas nucleares (o que quer dizer que os alunos do privado se mostraram mais bem preparados para o exame destas disciplinas).

Esta evidência parece encontrar confirmação quando analisamos a média da diferença entre a classificação de exame (CE) e a interna (CIF) (veja AQUI). Tanto para os alunos das escolas privadas como para os das públicas essa diferença é na ordem de -3,4 valores (em média, um aluno tira em exame uma nota inferior à interna em 3,4 valores). Se a análise se efectuar por disciplina verificamos que essa diferença se acentua até mais para os alunos das escolas públicas em mais disciplinas do que para os das escolas privadas. Tomando como exemplo outra vez a Físico-Química A, verificamos uma diferença de -5,5 valores para os alunos das públicas e -5,1 para os das privadas.

Não vou discutir aqui se esta diferença de -3,4 valores é aceitável ou não. Tal merecia uma reflexão mais aprofundada.
Também não posso aqui descurar a disparidade, em termos de grandeza, entre o número de alunos do privado e do público (o privado representou apenas cerca de 13% do número de provas - veja AQUI) nem os efeitos que os valores extremos têm na média como medida estatística.
De qualquer modo, parece-me importante notar que, com base nos dados e analisando a média, a existir inflação de notas por parte dos Conselhos de Turma, essa inflação parece ter valores semelhantes nos ensinos público e privado. Por isso as ideias que muitas vezes se transmitem para a opinião pública podem traduzir situações particulares (basta ver AQUI para perceber que assim acontece) mas parecem não encontrar justificação na análise global aos resultados.

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